RETOMAR A POSSE: UM BRASIL PARA AS PERIFERIAS
Vivemos uma época de grandes e traumáticas mudanças. Em 2020 e 2021 o mundo atravessou uma pandemia sem precedentes na história e que, embora esteja refluindo, já matou mais de 6 milhões de pessoas e ainda não terminou. Com a massificação da vacinação foi possível o retorno aos postos físicos de trabalho e locais de estudo. Contudo, ainda que a crise sanitária tenha retrocedido temporariamente, a crise social e política do capitalismo por ela acelerada mostra seus dentes afiados. Durante a pandemia, os problemas se agravaram, somados a uma forte crise ideológica: hoje é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do sistema estruturado na exploração dos trabalhadores e trabalhadoras, no racismo e no machismo, que progressivamente extingue o meio ambiente e a biodiversidade, os direitos sociais e trabalhistas, invade territórios indígenas e quilombolas, violenta a juventude negra e periférica, assassina as mulheres e pessoas LGBTQIA+. Um sistema baseado nos muros e fronteiras, que segrega, encarcera e impede a circulação e o encontro de pessoas e ideias, criminaliza as formas de amar e de se organizar para a luta. Um sistema do qual povo não participa. Para sobreviver, o capitalismo generaliza a fome, a miséria, o individualismo e a desesperança, rompendo laços de solidariedade. A manutenção do andar de cima é feita em ricos e indigestos coquetéis, deixando para os de baixo a revolta e a dureza da privação. Não podemos esquecer, porém, que sem os de baixo o sistema não existe. Desde a colonização e a escravidão a riqueza deles vem dos nossos corpos, suor e sangue.
Precisamos de uma verdadeira mudança de época. Isso significa destruir esse sistema e reconstruir uma vida social sobre novas bases. Em 2022, a população brasileira será convocada a decidir seu voto nas Eleições Presidenciais, de Governadores e Parlamentares nas esferas Estadual e Federal. Combater as pretensões de reeleição de Jair Bolsonaro e da extrema direita é fundamental para assegurar a democracia e conter os grupos paramilitares, racistas, corruptos, intolerantes, pró-ditadura, neofascistas que seu governo estimulou e fortaleceu ao longo de todo o mandato. Essa é uma tarefa urgente e exige apresentar uma alternativa integral ao modelo de sociedade atual. Isso não pode ser levado a cabo sem a reinvenção da política. Ocupar palácios e parlamentos, transformando-os em trincheiras de nossas lutas, é fundamental para reverberar as nossas reivindicações, mas não é suficiente. Afinal, a experiência concreta nos mostra que não é possível transformar a estrutura do sistema em que vivemos "por dentro". Para a Rede Emancipa, as eleições são um momento único para fortalecer o trabalho de base, o enfrentamento ideológico e a auto-organização nos territórios, movimentos e grupos sociais para construir poder popular. Trata-se de um momento de encontro para a formação de uma aliança política de tipo novo, que se coloque como estratégica a retomada da capacidade de imaginar, planejar e realizar por baixo e coletivamente outra forma de viver, de ser, de pensar e de governar.
Em 5 pontos, apresentamos a Plataforma "Poder para as Periferias", instrumento de formação, discussão e construção coletiva, contínua e radical em todos os cantos onde atuamos. Essa plataforma é uma síntese em construção pela nossa luta. Iniciado em 2020, já durante a pandemia, não se pretende um texto frio ou rígido. Deve servir como ponto de partida, ferramenta que alimenta as ideias e a vontade de mudar as coisas. Retomar a posse do nosso território, e da nossa história. Emancipar a luta!